Wednesday, November 14, 2007

VAZIO

Camila suspirou ao se levantar da cama. Entediada sua vida já parecia reprises de histórias batidas. Nem ao menos sorrio, dizia à sua grande nova amiga.
Às vezes agente fica assim mesmo, Cami. Não liga não. Deve ser amor.
Que amor que nada. Eu to vazia.

Ergueu uma garrafa de refrigerante já bebida em sua estante decorada.
Vê isso aqui? Sou eu. To vazia, cara.

Os dentes perfeitos da amiga se abriram. Caiu na gargalhada. Em tom de riso repetiu: To vazia. É depressão isso? Crise existencial? Virou moda né?

Camila liga o toca discos. Gosta disso?

Pode deixar.

Você não vai entender o que eu to sentindo. Não é crise existencial. Eu só to vazia.

Ta.

Tudo cheirava a doce naquele quarto. Doce de mocidade, de moça, e até mesmo de bala. Transmitia uma quase pureza, mas o problema da moça era mesmo por aí.

Ta o que? Vazia?

Não. Ta de entendi.

Você não entendeu. Você viu a Coca vazia? Sou eu, cara!

Eu tava pensando em aprender a dançar, Camila. Que tal?

Não to gostando não.

Dançar deve ser bom.

De fato. A amiga não estava percebendo o problema da Camila. Devia ser sério.

Ta chorando, Cami?

TO! PUTA! TO CHORANDO!

Por que?

Sei lá, cara! To meio vazia.

Deve ser a parada da coca, né?

Talvez por falta de perspicácia ou quem sabe de inteligência a psicologia não prosperava no quarto.

Olha, Cami. Vou te contar uma coisa pra te deixar feliz.

O silêncio de Camila não necessariamente implicava descaso. Talvez preguiça para se interessar. A menina estava estranha.

Eu andei na rua esses dias, e parei pra ver um velho atravessando a rua. Ele demorou muuuito tempo. Eu fiquei chocada.

E daí? Por que isso vai me deixar feliz?

É que você sempre fala que eu devia reparar mais nas coisas simples que a vida mostra pra gente todo dia. Eu fiz isso, você devia ficar feliz.

A incompatibilidade das meninas não se dava por diferenças pessoais. Era uma questão momentânea. Uma delas não estava bem.

Que babaquice, cara. Um velho atravessando a rua com dificuldade. Isso não é se admirar.

Que isso, Camila? Foi uma cena interessante. Ah, puta merda. Chora de novo não.

Puta merda? To vazia, cara!

Sei lá, Camila. Como que você não percebe a parada do velho?

E você que não percebe a parada da Coca?

Abriu-se a porta do quarto e um cachorrinho entrou, com um sutiã na boca. Entregou à Camila. A menina, enfim, sorriu.

Que é?

É enchimento!

Sutiã?

É.

E agora? Você ainda ta vazia?

Deixa de ser boba, menina. Meu problema é sério.

O espelho refletia novas curvas e Camila já com outro humor virava-se pouco a pouco para analisar se tudo decorria corretamente.
Melhor assim.

1 comment:

Caldereta das Idéias said...

Salve, Rubel!
Estou abrindo o meu sorriso. :D

beijos e mostre-me a grande produção!