- Essa coisa de sociologia não ta com nada.
- 100.
- eu dobro.
- Você sempre se sente ameaçador quando fala isso. “eu dobro”. “eu”. “dobro”. Como se nós fossemos mijar nas calças com essa demonstração de poder.
- Ô senhor psicologia barata, você paga ou cai fora?
- Eu caio fora.
- Medroso.
- Será que as duas moças podem parar de brigar? Eu pago.
- Vira a outra carta.
- a cerveja acabou.
- e agora?
- e agora o quê? Vamos continuar.
- vai lá buscar cerveja, Mauro.
- Não quero prejudicar o jogo. 100.
- vai logo.
- É sério. Vocês não vão conseguir jogar sem mim.
- Eu concordo.
- concorda com o quê?
- que vocês não vão conseguir jogar sem mim!
- Não, seu babaca. Aumento 100. Concordo que você deve ir buscar cerveja.
- Vocês ouviram a história do Carlinhos costa preta?
- É traficante?
- Não. Ele...
- É aquele viadinho da turma A.
- É gay?
- Não. Ele...
- É um de cabelo...
- PORRA! Deixa eu falar. Não é nada disso. O Carlinhos morava na rua 44, no fim daquela ladeira que agente descia com o carrinho. É engraçado, que eu só fui descobrir essa história depois que agente passou várias vezes lá.
Então. Esse moleque tinha uma aparência toda estranha, pálida, cabelo longo, preto. Meio gótico. Sei lá. Diziam que mexia com satanismo, bruxaria, e umas magias negras.
- Eu não agüento mais esses boatos, Gabriel. Cidade de interior é foda.
- Não é boato, cara. Eu ouvi de uma fonte muito confiável.
- Quem? A Li-Li-Zi-Nha? HAHAHAHAHA
- HAHAHAHA
- Não. Não foi a Lili, Marcos. Foi meu... vamos voltar a história.
Esse cara, o Carlinhos, vivia recluso em casa. Saia somente para o colégio, e olhe lá. O pessoal da turma A falou que tinha semanas inteiras que ele faltava.
Um dia chegou na aula com um livro gigante. Puta. Muito grande mesmo. Mas só com o livro. Sem mochila, sem material, sem nada. Colocou o trambolho na carteira, na frente do professor mesmo, e começou a recitar alguma magia, em uma língua desconhecida.
- Ô Gabriel. Você ta de palhaçada com a minha cara, né?
- Não, não. Espera. Isso foi na aula da Fernanda. Lembra dela?
- Sei, sei. Aquela gordinha que falava mole.
- Então. A velha era meio superticiosa, e quando ouviu aquilo ficou roxa. Ela ia ficando roxa, e o Carlinhos cada vez mais branco. Enquanto ele recitava a maluquice, a gordinha gritava “ai meu deus! Ai, senhor!”, balançado a mão pro alto. Isso deve ter durado o que? Uns quinze minutos.
- E por que a Fernanda não saiu da sala?
- Eu sei lá!
- Vai ver ela tava tentando exorcizar o Carlinhos.
- Exorcizar o caralho. Esse moleque é louco.
- Então. Quando ele parou de ler, a professora deu um grito muito, muito agudo, e caiu no chão. O Carlinhos pegou o livro, levantou, e simplesmente foi embora, sem ter autorização, nem dar satisfação alguma.
- É isso?
- Não. No dia seguinte a Fernanda foi até o diretor, e pediu para que o garoto saísse do colégio. Explicou todo o acontecimento, e o Wanderley disse que iria averiguar. Na mesma tarde foi até a sala A, e perguntou aos alunos se aquilo que a professora tinha dito era verdade. A turma inteira negou. Talvez por respeito ao Carlinhos, o que eu acho bem improvável.
- Totalmente! Todos odiavam esse cara. Deve ter sido pra ridicularizar a Fernanda, mesmo.
- Claro que não, Pedro. É a coisa mais óbvia. É a lei principal de um grupo. Ninguém dedura ninguém. Se uma história compromete uma pessoa do bando, ela é desmentida sem vacilo. Se aquela turma fosse unida eles deviam praticar isso.
- Olha lá, o sabe-tudo nunca falha!
- Ô Tonico. Não vem de piadinha pra cima de mim não, porque com um nome desses você não tem moral pra nada.
- Meu nome é Antonio, seu idiota.
- Não importa. Tonico é quase diminutivo. Sei lá. Pejorativo. Se te colocaram esse apelido é porque você tem um pouco disso tudo.
- Puta que pariu, Marcos! Chega desse papinho!
- É, Marcos, você ta passando dos limites. Deixa eu terminar a história.
- Eu acho que já deu essa história.
- É, você ta falando muita besteira, Gabriel.
- Quem vai buscar cerveja?
- E o jogo?
- É a sua vez.
- Claro que não, é o Tonico.
- Seu idiota, ele já apostou 100
- Chega. Acabou o jogo.
2 comments:
Hahahaha..adorei!
Você é tão maluco quanto a Mitz...
HA!
rubel e sua genialidade.
muito bom, embora ja previsse o final desde a primeira divagação ao jogo heheheheheheh
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