Wednesday, March 30, 2011

Joãozinho começou a entrar na onda das estrelas, comprou um telescópio, deixou as palavras fluírem, rasgou o peito, fechou os olhos e viu ponto a ponto se ascendendo, e quanto mais ali se descansava, mais um ponto aparecia, como que em recompensa pela atenção dedicada àquela beleza que estava ali estampada a todo o tempo mas ninguém conseguia ver. E sem conseguir ver, criavam luzes, e criavam lâmpadas que atrapalhavam, que cegavam, que só faziam ver o que tinha mais embaixo, mais terra, e Joãozinho lá, vidrado no que era muito maior, sendo bem recebido pelo universo que queria mesmo era que Joãozinho visse.

E teve um dia que o moleque voou, cara. De fato, seus olhos atravessaram o pequeno telescópio, o corpo leve e sábio subiu saltou a janela, e diante daquela paisagem voava, sorria, e subindo, subindo, subindo, enxergava cada vez mais longe aquelas luzes e aqueles bichos que já nem mais ver conseguiam. Os barulhos estavam cada vez mais longe, e subia, e João ouvindo o silencio cada vez mais alto, as luzes da cidade cada vez mais fracas, tímidas, e o ar, e a luz da lua eram tão mais doces. Voava, voava, voava, voava, voava, e se ria.

Bora, Joãozinho, vamo com tudo, Joãozinho, o universo lhe gritava mudo e baixo, voz de mulher o universo tinha. O universo seduziu João, quando viu, nem mais as luzes lá de baixo se via, eram apenas as nuvens, tão somente as nuvens brancas, iluminadas pela forte e suave luz da lua, e João brincou com as nuvens, pulou, dançou sobre as nuvens e escalou todas aquelas nuvens, que ao perceberem que João as notava, não com olhos rápidos daqueles que reconhecem a beleza, mas não se debruçam, e sim os olhos daqueles para quem só a beleza não basta, é preciso ir até a fonte, e bebê-la, e chupá-la, e prová-la, é preciso fazer amor, muito amor, para quem é preciso jogar toda aquela beleza na cama e beijá-la dos pés a cabeça, e Joãozinho, mesmo na sua inocência, ou talvez justamente por sua inocência, tinha toda essa vontade. Então subia mais, e as nuvens percebendo que estava sobre elas, amando-as como mereciam ser amadas, potencializando todas as energias que inerentes a elas clamavam para serem expurgadas, trocadas, tocadas, sentidas, abriam caminhos para João, deixavam-no subir, e desenhavam formas, e seduziam-no, e o universo, silencioso e esperto, ao ver como brincavam as nuvens e o garoto, resolveu entrar ainda mais na dança, e não só falava, mas cantava nos ouvidos de João com voz de mulher bonita. A nuvem ouvindo a voz doce transfigurou-se também em mulher e Joãozinho já sem nem mesmo saber que era Joãozinho sentiu todo o amor que o universo lhe amava e voou ainda mais. Depois de amar as nuvens ainda subiu, e encontrou coisas que nem sabia o que era, Joãozinho na verdade deixou de ser Joãozinho e se cansou de terra, Joãozinho virou nuvem, virou estrela, virou música e se propagou até a eternidade voando longe e longe e longe, amando e sendo amado, por todos, por todos os dias, na cama mais leve e gostosa, por vezes no chão mais duro e selvagem, por todos os dias, sempre.

1 comment:

Anonymous said...

Dia desses conheci Joãozinho.